sexta-feira, 28 de junho de 2013

O Gasto da Copa e a ilusão do povo

23/6/2013
A mais cara de todas as Copas
Editorial


O Estado de S.Paulo

A Copa do Mundo de 2014 no Brasil será a mais cara de todas.

 O secretário executivo do Ministério dos Esportes, Luís Fernandes,
 anunciou que em julho seu custo total chegará a R$ 28 bilhões, um aumento de 10% em relação ao total calculado em abril, que era de R$ 25,3 bilhões. 
E supera em R$ 6 bilhões (mais 27%) o que em 2011 se previa que seria gasto.

Por enquanto, já se sabe que o contribuinte brasileiro arcará com o equivalente 

ao que gastaram japoneses e coreanos em 2002 (R$ 10,1 bilhões) mais o 
que pagaram os alemães em 2006 (R$ 10,7 bilhões) e africanos do sul em 2010 (R$ 7,3 bilhões).

O "privilégio" cantado em prosa e verso pelo ex-presidente Luiz Inácio da Silva, 

que se sentou sobre os louros da escolha em 2007, e entoado por sua sucessora, 
Dilma Rousseff, em cuja gestão se realizará o torneio promovido pela Fifa, 
custará quatro vezes os gastos dos anfitriões do último certame e três vezes os gastos dos dois anteriores.

O governo federal não justifica - nem teria como - este disparate. 

Mas, por incrível que pareça, os responsáveis pela gastança encontram um motivo para comemorar: 
a conta ainda não chegou ao teto anunciado em 2010, que era de R$ 33 bilhões. 

É provável, contudo, que esse teto seja alcançado, superando o recorde já batido, 

pois, se os custos cresceram 10% em dois meses,
 não surpreenderá ninguém que subam mais 18% em 12 meses.

Esta conta salgada é execrada porque dará um desfalque enorme nos cofres da União, 

que poderiam estar sendo abertos para a construção de escolas, hospitais, estradas, 
creches e outros equipamentos dos quais o País é carente. 

Como, aliás, têm lembrado os manifestantes que contestam a decisão 

oficial de bancar a qualquer custo a realização da Copa das Confederações,
 do Mundial de 2014 e da Olimpíada no Rio de Janeiro em 2016. E, além dos valores, 
saltam aos olhos evidências de que tal custo não trará benefícios de igual monta.

É natural que, no afã de justificar o custo proibitivo, 

o governo exagere nas promessas de uma melhoria das condições de vida de quem banca a extravagância. 

Segundo Fernandes, responsável pela parte que cabe ao governo na organização do torneio, 

"a Copa alavanca investimentos em saúde, educação, meio ambiente e outros setores".
 E mais: "Ou aproveitamos esse (sic) momento para o desenvolvimento do País 
ou perdemos essa (sic) oportunidade histórica". 

A Nação aguarda, com muita ansiedade, que o governo, 

do qual participa o secretário executivo do Ministério dos Esportes, 
venha a público esclarecer quantos hospitais,
 escolas ou presídios têm sido construídos e
 que equipamentos têm sido adquiridos para
 melhorar nossos péssimos serviços públicos 
com recursos aportados por torneios esportivos que nos custam os olhos da cara.

Não é preciso ir longe para contestar esta falácia da "Copa cidadã": 

o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) previu um "legado inestimável"
 que ficaria da realização dos Jogos Pan-americanos de 2007 na mesma 
cidade onde será disputada a Olimpíada de 2016. 

O tal "legado" virou entulho: 

os equipamentos construídos para aquele fim estão sendo demolidos e reconstruídos e, 
enquanto não ficam prontos, os atletas simplesmente não têm onde se preparar para disputar
 os Jogos Olímpicos daqui a três anos. 

A manutenção do estádio Green Point, na Cidade do Cabo, 

que custou R$ 600 milhões (menos da metade dos gastos na reforma do Maracanã, no Rio,
 e do Mané Garrincha, em Brasília) para ser usado na Copa da África do Sul, 
demanda, por ano, R$ 10,5 milhões em manutenção,
 o que levou a prefeitura local a cogitar de sua demolição. 
Por que os estádios de Manaus, Cuiabá e Natal terão destino diferente depois da Copa?

A matemática revela que o maior beneficiário da Copa de 2014 será mesmo a Fifa,

 e não o cidadão brasileiro, que paga a conta bilionária. 
Prevê-se que o lucro da entidade será de R$ 4 bilhões,
 o dobro do que arrecadou na Alemanha e o triplo do que lucrou na África do Sul.
 O resto é lorota para enganar ingênuos e fazer boi dormir.
Por O Estado de São Paulo - SP

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