Líderes e liderados: qual é o seu papel?
Qualquer que seja a estrutura em que estão inseridos, os líderes desempenham papel indispensável e inquestionável. Não importa se ali chegaram por merecimento ou em obediência a uma ordem hierárquica construída com base em aspectos como idade ou poder aquisitivo. Seja como for, quando estão à frente de seus grupos, são eles os grandes responsáveis por analisar cada situação e encontrar as melhores soluções, aquelas capazes de beneficiar a todos ou a maioria.
Não à toa, o termo liderança, por si só, remete a outros conceitos, como respeito, inteligência, sabedoria e, muitas vezes, sucesso. No ambiente corporativo, essencialmente, a busca por postos de liderança tornou-se uma meta profissional quase obrigatória para colaboradores de todos os setores, afinal, quem não gostaria de agregar tantos atributos ao próprio currículo?
No entanto, basta observar de perto a maneira como essas relações se dão para compreender que há muito por trás do insaciável desejo de ‘crescer na empresa’. Na luta por cargos de destaque, inúmeros profissionais utilizam-se de recursos pouco positivos ou produtivos. Recusam-se a desempenhar tarefas, a assimilar feedbacks e passam por cima das instruções repassadas por seus superiores porque, de alguma maneira, consideram-se melhores que aqueles a quem estão subordinados. Incorrem em prepotência para provar que estão mais aptos e prontos para desempenhar aquela função.
De outro lado, profissionais excelentes e com grande potencial optam por abrir mão da proatividade, da capacidade de se impor e de apresentar inovações. Ficam acomodados em suas rotinas e, ainda que cansados de encará-las, preferem manter-se a parte de qualquer responsabilidade maior que eventualmente lhes seja repassada.
Em suma, enquanto uns buscam o reconhecimento a qualquer custo, outros optam pelo anonimato. Nenhum deles se dá conta de que esses comportamentos trarão, em curto ou longo prazo, resultados inesperados e invariavelmente negativos. Entre as principais consequências decorrentes de tais ações, está a sensação constante de insatisfação com a desvalorização profissional. Será possível evitar essa frustração?
O caminho até aquiConsolidar a própria carreira exige, acima de tudo, Autoconhecimento. A partir dessa ferramenta, o profissional torna-se apto a enxergar quais são seus verdadeiros atributos e a identificar quais pontos precisam ser aprimorados. Ao assumir com honestidade tudo aquilo que é seu, qualidades e defeitos, ganha a oportunidade de mudar sua trajetória e caminhar em direção àquilo que realmente deseja alcançar.
Essa avaliação interna necessita de comprometimento e de mudança de paradigmas. Aqueles que assumem qualquer risco na busca por cargos mais altos devem, inicialmente, voltar os olhos para si e questionar-se: estou realmente pronto para desempenhar essas tarefas? Por que me considero mais apto para realizá-las que outros profissionais? Em quais pontos tenho deixado a desejar? Minhas ações visam a gerar resultados positivos para meus colegas de trabalho ou apenas para mim? Estou aberto a sugestões? Gosto de compartilhar ideias e iniciativas?
Essa reflexão deve ser exercitada continuadamente até que se possa identificar a origem desses comportamentos. E, com frequência, essa análise nos leva de volta à infância. Quando pequenos, não tivemos outra alternativa que não obedecer a familiares e adultos e sermos totalmente liderados. Magoados e ressentidos com a impossibilidade de decidirmos por nós mesmos, prometemos que nunca mais seríamos mandados. Chegamos à fase adulta comprometidos com esse ideal e incapazes de sermos subordinados.
Da mesma forma, os colaboradores que optam pelo ‘anonimato’ podem e devem realizar um processo interno semelhante: por que não exponho minhas ideias aos meus colegas de trabalho e superiores? Por que não tomo iniciativas em relação às funções que desempenho? Em que aspectos essas características me beneficiam? Em quais aspectos me prejudicam?
Novamente, a resposta e explicação para esses comportamentos podem estar na infância. Basta lembrar que, quando éramos pequenos, todas as decisões importantes eram tomadas por outras pessoas, como pais e familiares. Por isso, não precisávamos nos responsabilizar por essas decisões, ainda que tivessem resultados negativos. Sair dessa posição pode não ser fácil para algumas pessoas, que, na fase adulta, sentem-se inseguras para liderar, fazer afirmações ou apontar caminhos.
Ponto de mudançaInúmeras pesquisas ligadas ao mercado de trabalho destacam as atitudes comportamentais como decisivas nas conquistas profissionais. Conhecimentos técnicos são pré-requisitos importantes, mas o que de fato permite a um profissional apresentar desempenho acima da média está muito mais relacionado às suas habilidades pessoais ou, mais especificamente, à sua capacidade de autoliderança e de gerenciamento interno de emoções e comportamentos.
Por isso mesmo, o autoconhecimento e a conquista da autoconsciência são tão importantes para que se possa alavancar a própria carreira. A partir dessas ferramentas, o profissional encontra o equilíbrio e descobre o que, de fato, espera de seu trabalho. Ele encontra sabedoria para liderar a si mesmo e, a partir daí, passa a colaborar efetivamente para a sustentabilidade do clima organizacional em que está inserido.
Sendo assim, cabe a cada profissional despertar o líder humano que já existe nele, isso é, o líder capacitado a reconhecer suas qualidades e suas fraquezas, seu potencial e suas deficiências. Para isso, é fundamental passar a vida a limpo desde o seu nascimento até o momento atual e descobrir, com clareza, como você se tornou a pessoa que se tornou. A partir daí, entra-se em um processo de transformação emocional.
O novo líder será aquele que voluntariamente se apropriar de todo o seu bem e de todo o seu mal, isso é, de sua humanidade. Em outras palavras, as novas lideranças surgirão naqueles que já se aprofundaram no autoconhecimento, naqueles que foram preparados, descobertos e escolhidos por eles mesmos, tornando-se capazes de mudar o mundo e enfrentar as adversidades com novas possibilidades. No entanto, esse conhecimento não virá do professor, do mercado, da mídia ou do outro, mas, sim, de você mesmo.
Heloísa Capelas é diretora do Centro Hoffman no Brasil. Especializada há mais de 20 anos no desenvolvimento do potencial humano por meio do Autoconhecimento e do aumento da Competência Emocional.
*Este artigo foi publicado pelo Portal Carreira & Sucesso em 28 de maio de 2013
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