Qual é o seu propósito?
Os movimentos recentes da sociedade em manifestações públicas estão chamando a atenção pela diversidade de temas e pela amplitude demográfica de seus participantes. Nesse século, é a primeira vez que se assiste a esse fenômeno, cuja principal característica é a mobilização digital por meio das redes sociais.
Segundo Carla Falcão, especialista em mídias sociais, as redes sociais nos ensinaram o princípio de compartilhar mensagens. Ela diz: “Agora que #oGiganteAcordou, #SaímosdoFacebook e começamos a compartilhar na vida real, estamos vivendo uma nova fase da sociedade. Queremos e buscamos participar, desejamos viver nossas experiências e para isso pedimos atenção! Fomos criados únicos por essência. Mas em sociedade, insistimos em nos enquadrar em padrões já ultrapassados, quer seja em nossa carreira, em nossos relacionamentos, empresas e inclusive em nosso modo de governar. E fica a pergunta: como mudar isso tudo? Por onde começar uma nova ordem?”.
Os jovens descobriram a capacidade de mobilização, mas ainda não estabeleceram a diferença entre os temas de debate e o propósito do mesmo. Falta foco e praticidade, algo que ficou restrito apenas à questão dos R$ 0,20, infelizmente.
Ellen Devai, especialista em Diversidade e Qualidade de Vida, concorda que vivemos um momento singular, contudo devemos trocar os hashtags e as escritas nos cartazes pela escrita da nossa história. Ela afirma: “Participei das passeatas e percebi que são jovens em sua maioria; valorizam a diversidade de todas as tribos presentes; não existe a presença de um líder único ou autoritário, inclusive, cada um erguia o seu cartaz com sua própria “luta pessoal”. Tudo isso é válido, se houver foco no futuro que queremos ver e resolver os problemas básicos de nosso país! Precisamos aproveitar essa energia/mobilização e agir efetivamente, ou, como dizia minha antiga gestora, não ficar somente na iniciativa e, sim, ‘ter a acabativa’”.
É evidente que a mobilização digital é válida, mas precisa avançar para além das redes sociais e alcançar o comportamento social que leve a transformações efetivas. Curtir imagens e mensagens contra corrupção não irá acabar com a mesma. Fotografar um carro que estaciona na vaga de deficiente irregularmente e compartilhar como “absurdo” não irá melhorar a cidadania de um país. É preciso fazer algo menos superficial. Clicar e compartilhar é muito pouco para quem realmente pretende ser coerente com a mensagem que divulga em seu perfil.
Estamos, sim, em um momento histórico da sociedade brasileira e o futuro irá julgar se todo esse movimento foi um temporal válido ou apenas mais uma brisa no caminho da evolução social do Brasil. O que irá determinar essa diferença serão os propósitos estabelecidos para esses movimentos. A pergunta fundamental deve ser: para que toda essa mobilização?
Na vida, fazemos sempre escolhas e elas trazem consequências. Até agora, os jovens colhem frutos das escolhas das gerações mais antigas. Escolhas certas e erradas fazem do cenário atual a nossa realidade e certamente ainda temos muito que acertar, por isso, é fundamental que o jovem não se limite a se manifestar apenas nas redes sociais, mas de fato questione o cenário, proponha mudanças e lute por elas nas ruas, nas empresas, nas universidades e, principalmente, no voto.
E com todo esse debate ainda fica uma questão: e você, sabe qual é o propósito de suas escolhas?