O Brasil tem à sua frente uma oportunidade histórica para exercer forte liderança regional e global. Mas para isso precisa abandonar alianças anacrônicas. Governo e iniciativa privada devem se unir e modernizar a política econômica externa brasileira, afastando o país dos regimes autocráticos da Argentina e da Venezuela e simultaneamente, construindo alianças com as mais importantes potências econômicas mundiais.
Assim, estariam criadas as condições básicas para que o novo diretor geral da OMC, Roberto Azevedo, assuma uma postura nova e construtiva na próxima reunião da entidade, no final do ano em Bali.
Desde os anos 80, a política externa do Brasil tem se baseado na crença de que a constituição de um bloco com outros países da América do Sul e da África lusófona é crucial para que o país defenda adequadamente seus interesses na esfera do comércio exterior.
Nunca considerei essa estratégia inteligente ou realista; e com certeza, não foi esse o caminho seguido pelos países que alcançaram, na história recente, papel de liderança regional ou mundial. Basta olhar para trás para concluir que os demais países da América do Sul e da África não trouxeram nenhuma contribuição tangível para a posição ou o grau de influência que o Brasil exerce hoje no mundo.
Mais do que isso, o Mercosul e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa acabaram por distrair, tanto o governo brasileiro como a sua comunidade empresarial, de objetivos e mercados muito mais importantes.
Desde os anos 80, a política externa do Brasil tem se baseado na crença de que a constituição de um bloco com outros países da América do Sul e da África lusófona é crucial para que o país defenda adequadamente seus interesses na esfera do comércio exterior.
Enquanto isso, sem o auxilio de alianças regionais, vários países avançaram. O Chile e a Colômbia, por exemplo, estabeleceram, cada um deles, acordos comerciais com mais de 60 países; o México e o Peru, com mais de 50. Essas nações têm acordos de livre comércio com os Estados Unidos, com a União Europeia e com os mais importantes países da Ásia, além de vários acordos de promoção de investimentos e proteção, com dezenas de parceiros ao redor do mundo.
Em nítido contraste, o Brasil negociou e ratificou, direta ou indiretamente, por meio do Mercosul, acordos comerciais praticamente apenas com outros países da América do Sul, ou com nações sem relevância comercial, como Cuba e Israel; e não ratificou nenhum tratado bilateral de investimentos.
Hoje, a reputação do Brasil junto às elites políticas e econômicas internacionais está especialmente prejudicada por conta das relações que mantém com a Argentina e a Venezuela, países dirigidos por governos que administraram mal suas economias ao desencorajar investimentos, ignorar direitos de propriedade por meio de controles arbitrários de preços, impostos discriminatórios, restrições às importações, desrespeito a contratos, nacionalizações sem compensações, falsificação de estatísticas oficiais, proibição de transações em moeda estrangeira e corrupção desenfreada.
No caso da Argentina em particular, ações arbitrárias e políticas discriminatórias tiveram impacto negativo, especialmente no Brasil.
O comércio bilateral, o turismo e os investimentos foram prejudicados pelas políticas argentinas - casos emblemáticos como os da Vale, Petrobras e da América Latina Logística-ALL, ilustram bem o que está errado naquele país. Tanto Cristina Kirchner como Nicolás Maduro estão exaurindo os recursos financeiros e fiscais de suas respectivas nações; a inflação está fora de controle; as economias, estagnadas; e as moedas perderam boa parte de seu valor.
Além disso, os dois países não têm acesso ao mercado internacional de capitais.
Por tudo isso, chegou o momento do Brasil buscar parceiros mais fortes do ponto de vista econômico e ideologicamente compatíveis com as suas relações de negócios.
A prosperidade virá com parceiros que integrem as empresas brasileiras nas cadeias globais de produção e de mercado. Tomemos como exemplo os maiores blocos regionais de comércio formados recentemente.
Na América Latina, a Aliança do Pacífico avança rapidamente em direção à eliminação de todas as barreiras comerciais remanescentes entre seus membros e à promoção da livre circulação de mercadorias, serviços, capital e mesmo pessoas.
Há também a iniciativa de livre comércio da Parceria Trans-Pacífico (TPP), que abrange os Estados Unidos e mais dez países - entre eles, Austrália, Canadá, Chile e México. O Japão e a Coreia do Sul devem em breve aderir, o que transformaria o bloco na mais importante iniciativa econômica de integração entre as Américas e o Sudoeste da Ásia.
Assim, parece claro que caminhamos em direção a uma economia global formada por vários superblocos: Parceria Trans-Pacífico (TPP), Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), União Europeia, bloco econômico da China com os países vizinhos e, no âmbito da América Latina, a Aliança do Pacífico. Lamentavelmente, o Brasil não demonstrou, até o momento, interesse de integrar qualquer destes grupos.
Caso o Brasil deseje permanecer fora dos superblocos porque pretende colocar todas as suas fichas numa abordagem multilateral para a governança mundial do comércio, o setor privado e o governo brasileiro devem assumir uma atitude construtiva na próxima reunião da OMC, em Bali, em dezembro.
Sem uma nova postura de abertura comercial, a Rodada de Doha provavelmente não será bem sucedida e seu fracasso deixará o Brasil muito isolado num mundo que será dominado por superblocos.
Há também a oportunidade do Brasil tornar-se um parceiro estratégico dos Estados Unidos - os dois países parecem prontos para estabelecer uma relação mais madura. Em outubro, na sua visita oficial aos EUA, Dilma Rousseff tem a chance de mostrar que o Brasil está disposto a distanciar-se dos maus parceiros da América do Sul para entrar numa nova e promissora parceria estratégica com a América do Norte.
Como no futebol, se você quer jogar na primeira divisão, deve deixar de jogar na segunda divisão. Chegou o momento para o Brasil apostar alto.
Arturo Porzecanski é especialista em economia latino-americana e professor titular na American University, em Washington D.C., onde também atua como diretor do programa de Relações Econômicas Internacionais.
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